O artesão do Salgueiro...

...recebeu-me em seu casa para falar dos seus bombos e pífaros, mais do que da sua vida, como que receando que dessa havia pouco para falar.



É, neste pensamento, contrariado pelos objectos que decoram o espaço. Muito ao seu jeito, os seus modelos inspiram histórias que tanto poderiam acontecer durante o pastoreio - também foi pastor - como ainda acontecem em sua casa.

Muito antes da melodia, as suas peças "tocam" a sua sensibilidade...



...desenvolvida no campo, às vezes à noite, com as estrelas. Estas representações, estilizadas, nos objectos de madeira como as "cravelhas", que seguravam os colares do gado, ou nos pífaros que o entretiam e alegravam durante o pastoreio...



...são a seu verdadeiro património. E por essa razão têm a sua marca. Pessoal. Intransmissível.



Adornadas. Que ceptro real se assemelha a este?
Dos seus adornos não se fala de jóias...



...mas de objectos, esgotados, que depois de tratados e polidos pela sua mão servem como qualquer outro.





José dos Santos

Oitenta e tal anos de conhecimento e sabedoria, à sua medida...



...como a sua bancada de trabalho...



...exígua, mas não o suficiente para impedir de produzir as suas obras, Simples.
Porque é simples a vida de um homem que, de uma forma simples...



..pinta e decora como mestre. Telas que qualquer um vê. Mas que ele sente...



E é com as suas melodias, arrancadas do seu património de um modo muito pessoal...



...e de coreografia aprendida....



...espontânea...



...colorida com as suas cores...



...e simples como o seu nome...



José dos Santos

...que nos despedimos.

Havemos de nos voltar a ver!

By Belarmino Lopes, shot with Canon EOS 20D

É assim...
...depois de postar este tópico sou informado da morte do Sr. José dos Santos!
Há coisas do Diabo.
Havia semanas que queria publicar este encontro, precedendo uma outra publicação: "Estrelas e Silvas" - traduzida em livro e em tributo a todos os pastores/artesãos que gravavam nas "cravelhas" as imagens que captavam durante as suas longas vigílias.
Não queria que fosse antes ...e quando foi, já foi tarde.
José dos Santos morreu!
A vida é efémera!

Bem, posso dizer que fiquei completamente arrepiada com a noticia. Muito boas as fotos, e com a descrição a acompanhar ficou fantástico o tópico, mas a noticia entristece qualquer pessoa, mesmo não conhecendo o senhor. Não deixa de ser uma grande dedicatória.

Incrível a imprevisibiliadde de tudo na vida.

Impressionante fotoreportagem e dedicatória!