Obesidade nem sempre origina doenças cardíacas e peso normal pode não as evitar

A relação entre excesso de peso e doenças cardíacas não é automática. Um estudo realizado nos EUA revela que é possível ter-se peso a mais sem que os factores de risco cardíacos, como a pressão arterial e o colesterol, fujam aos valores normais. O mesmo pode acontecer no sentido contrário: ter peso adequado e sofrer de problemas academicamente associados à obesidade.

De acordo com este trabalho, pelo menos metade dos adultos com excesso de peso, e cerca de um terço das mulheres e homens obesos, tem pressão arterial e colesterol normais, mas um quarto dos adultos dos EUA com peso adequado possui factores de risco relacionados com problemas cardíacos e diabetes.

“Não sabemos tanto sobre obesidade como pensamos saber”, vincou à Reuters Judith Wylie-Rosett, da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova Iorque. “Uma proporção de adultos pré-obesos e obesos é metabolicamente saudável, enquanto uma considerável porção de adultos com peso normal demonstramum surgimento de anormalidades cardiometabólicas”, escreveram Wylie-Rosett, Rachel Wildman e os restantes investigadores num relatório publicado na revista “Archives of Internal Medicine” (para acesso gratuito ver link).

A equipa de Wylie-Rosett analisou dados relativos a 5440 adultos que foram examinados e preencheram questionários no âmbito dos inquéritosnacionais de avaliação da saúde e nutrição que foram realizados entre 1999 e 2004. Os investigadores centraram a sua atenção nas anormalidades cardiometabólicas que podem degenerar em ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais

Cinquenta e um por cento dos inquiridos que tinham peso a mais, incluindo 31,7 por cento com obesidade, registavam níveis de colesterol, açúcar no sangue e pressão arterial normais. Mais de 23 por cento das pessoas com peso adequado tinham dois ou mais indicadores negativos. “O nosso estudo mostra que é possível ser-se saudável mesmo sendo-se obeso”, disse Wylie-Rosett.

A equipa de investigadores acredita que a localização da massa gorda é tão importante como a quantidade. Muitos estudos mostraram que ter-se gordura visceral, dentro e à volta dos órgãos internos, pode ser mais perigoso que ter ancas ou nádegas gordas. Mas, quando a equipa de Wylie-Rosett analisou as medidas das cinturas, um indicador da existência de gordura visceral, verificou que 36 por cento dos obesos com medidas perigosamente elevadas tinham níveis sanguíneos normais.

Um segundo estudo sugere que o fígado pode ser a chave. Investigadores da Universidade de Tubingen, na Alemanha, analisaram detalhadamente 314 pessoas, recorrendo a ressonâncias magnéticas para verificar a quantidade e a localização da massa gorda desses indivíduos. Descobriram que homens e mulheres obesos podem ter corações e artérias saudáveis e que o factor diferenciador pode ser a gordura no fígado.

“É uma área que também nos intriga bastante”, afirmou Wylie-Rosett. “Se enchermos as pessoas com calorias, será o mesmo que fazer paté do fígado dos gansos”, disse, referindo-se ao facto de os gansos serem sobrealimentados para que os seus fígados fiquem mais gordos e mais adequados para fazer paté.

Dados do estudo

Título: The Obese Without Cardiometabolic Risk Factor Clustering and the Normal Weight With Cardiometabolic Risk Factor Clustering
Publicação: Archives of Internal Medicine, Voume 168, número 15, Agosto de 2008, páginas 1617-1624
Autores: Rachel P. Wildman; Paul Muntner; Kristi Reynolds; Aileen P. McGinn; Swapnil Rajpathak; Judith Wylie-Rosett; MaryFran R. Sowers
- The Obese Without Cardiometabolic Risk Factor Clustering and the Normal Weight With Cardiometabolic Risk Factor Clustering


Fonte: Público