Centro de Interpretação de Arte Rupestre - Vide (Seia)

A Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA) e a Junta de Freguesia de Vide inauguraram, no passado sábado, dia 10 de Maio, o Centro de Interpretação de Arte Rupestre (CIAR) de Vide, «o primeiro não estatal do País».
De acordo com Nuno Ribeiro, pretende-se que este espaço, para além de divulgar o património arqueológico, constitua «uma mais-valia para a população local, servindo também de base de apoio aos estudos arqueológicos já iniciados e a investigações futuras».
A criação do Centro de Interpretação, em instalações cedidas pela Junta de Freguesia, surge na sequência de projectos de investigação arqueológica desenvolvidos pela APIA na região, desde 1998, e resulta da necessidade de sensibilizar a população e o público em geral para a importância histórica e arqueológica de um relevante conjunto de vestígios, «constituídos por várias centenas de lajes gravadas, já inventariadas na área das Bacias Hidrográficas dos Rios Ceira e Alva e que fazem desta região uma das mais ricas concentrações de arte rupestre da Península Ibérica», refere o presidente da APIA.
Aquele responsável adiantou ainda que a abertura do CIAR «deixa raízes para futuros projectos», aos quais a Associação vai agora começar a dar sequência, nomeadamente com visitas guiadas – as quais só serão possíveis por marcação – e a continuação da valorização dos sítios de arte rupestre que existem na área. Contudo, começam já a debater-se com um problema: a contratação de técnicos de turismo, «inscritos no Centro de Emprego de Seia mas que não querem vir trabalhar para a Vide», salientou.
Questionado sobre quais os motivos que levaram a que só agora fosse concretizado o projecto, Nuno Ribeiro disse que se relacionam com «questões financeiras». Apesar do apoio da Junta de Freguesia e de uma candidatura à ADRUSE, a APIA «financiou praticamente a totalidade do projecto, que envolve já 300 mil euros desde 1999», tendo sido «as questões financeiras que justificam o facto de termos demorado alguns anos a chegar a este ponto».

«Surto de desenvolvimento com base nas gravuras»
Na impossibilidade de estar presente na inauguração por motivos familiares, João Dias, presidente da Junta de Freguesia, enviou uma mensagem congratulando-se com o acto, com o qual já vinha sonhando há alguns anos. Em sua representação, Manuel Inácio da Silva destacou o facto de Vide estar “na rota” da investigação arqueológica, «uma realidade inserida num projecto que valorizará turisticamente e culturalmente o património da freguesia de Vide, do nosso Concelho e do nosso País». O secretário da Junta de Freguesia considerou mesmo que com as gravuras «já referenciadas em 1907 se justificava a criação de um Centro de Arte Rupestre e Arqueológico em Vide, à semelhança do que aconteceu em Foz Côa, aproveitando as potencialidades dos rios de Alvoco e Piódão e as paisagens das serras das Estrela e do Açôr».
Sendo a concretização do sonho agora uma realidade, disse estarem «convencidos de que se perspectiva um surto de desenvolvimento com base nas gravuras, tendo em conta o facto de Vide ser uma das portas da Serra da Estrela e do Parque Natural e por estar situada nos eixos de acesso ao Piódão, ao mesmo tempo que a região oferece a riqueza piscícola dos rios e a possibilidade da realização de turismo aliado à natureza», adiantou.
Aproveitando a presença de Cristina Sousa, Vereadora da Câmara Municipal de Seia com o Pelouro da Cultura, Manuel Inácio pediu apoio institucional para o projecto. A autarca assegurou que a Junta de Freguesia «pode contar com o apoio nos projectos que achar necessários, fazendo [a Câmara] todos os possíveis para colaborar». Aproveitou ainda para dar os parabéns «por este espaço magnífico», sublinhando que «hoje vemos crescer o património cultural da freguesia de Vide e do Concelho de Seia, algo de que todos nos devemos orgulhar». «Termos um Centro destes que podemos visitar e que podemos aproveitar para investigação; e podemos colocar o Concelho de Seia no mapa da arqueologia, o que é muito importante», salientou.

Centro instalado no edifício da Escola Primária
No Centro de Interpretação de Arte Rupestre de Vide é possível encontrar vários painéis com os achados dos núcleos de Vide e de Góis, tais como Entre-Águas – o primeiros sítio de arte rupestre a ser identificado pela APIA –, Ferraduras, Serra do Açôr, Serra da Alvoaça, Pedras Lavradas, Sobral de S. Miguel, Serra da Abuceira, Serra da Cebola, Serra do Chiqueiro.
No antigo quadro da sala de aula o visitante pode “descobrir”, através de um mapa da região, todos os locais onde se situam e estão identificadas as cerca de 500 lajes descobertas, e visualizar um bloco de xisto gravado, cujo exemplar foi recolhido no sítio da Rasa da Moura, em Teixeira, e que representa dois pequenos podomorfos, um fragmento de laje de xisto com “Fossete”, encontrado nas Pedras Lavradas, uma Mó Manual, do período do Neolítico Final/Calcolítico, encontrada na Quinta de Santiago, no Dominguiso (Covilhã), e uma Mó Manual (Movente) trazida de Alvôco das Várzeas, traduzindo-se, assim, de acordo com Nuno Ribeiro, «no primeiro centro de investigação e interpretação deste género privado no País».
As gravuras rupestres do Núcleo de Vide representam círculos, curvas irregulares e figuras antropomórficas dos períodos do Neolítico e Calcolítico, Idade do Bronze e do Ferro. Na freguesia, para além de algumas dezenas de lajes gravadas com arte rupestre, existem outros elementos arquitectónicos e arqueológicos, como as pedras do antigo pelourinho, várias pontes de origem romana e um cruzeiro em granito primorosamente trabalhado, no qual estão gravados um cálice e uma hóstia suspensa sobre o cálice.

Fonte: PE