As Cores das Beiras
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

A Torre dos Namorados

2 participantes

Ir para baixo

novo A Torre dos Namorados

Mensagem por Belar Ter Out 16, 2007 4:45 pm

A lenda da Torre dos Namorados


Conta-se que há muito tempo atrás, no local que hoje é conhecido como o centro da Torre dos Namorados existia uma cidade muito povoada, onde abundava a prosperidade e a felicidade. A cidade era governada por um rei muito consciente dos seus deveres para com os súbditos. Era dotado de um sentido de justiça apuradíssimo e revelava uma moral inabalável e incorrupta. Muito estimado pela população, para este governante, a palavra tinha um valor insubstituível e, dizia-se na altura, "antes preferia morrer que vergar".

Tinha o rei uma filha casadoira que fazia suspirar de paixão os mancebos da cidade com sua beleza sem igual. Ousadia para pedir ao rei a mão da princesa faltava a quase todos os jovens apaixonados. O seu perfil de monarca rígido e moralista fazia adivinhar que não teria escrúpulos em mandar para a forca quem se atrevesse a cometer a mais pequena indelicadeza ou ousasse falar-lhe sequer na mão da real filha.

Tempos passaram e a beleza da princesa cada vez era maior. Cabelos de ouro e face que parecia irradiar a luz do sol, caracterizavam a sua beleza única. Certa tarde de Primavera, dois jovens mais ousados e bêbados de paixão dirigem-se corajosamente ao palácio real para falarem com sua majestade a fim de obterem consentimento para casarem com a jovem princesa. O rei recebeu-os com dignidade respeitando os seus sentimentos de puro amor. Obviamente, a sua filha era única e apenas um podia ser o eleito. Como monarca justo que era e, tendo a mesma consideração e estima pelo carácter e amor sincero dos seus dois jovens súbditos, falou-lhes nos seguintes termos:

«- Meus caros jovens: não tenho qualquer dúvida que qualquer um de vós ama perdidamente a princesa e poderá vir a ser um excelente marido para a minha filha e um melhor pai para os meus netos e sucessores. Contudo a minha filha, a quem venero com todo o meu coração, é única e vós sois dois pretendentes. Se der a sua mão a um de vós estarei a ser injusto. Entretanto a cidade está a ficar com problemas de abastecimento de água à população que não pára de crescer. Por outro lado, o palácio não tem uma torre sólida e funcional que nos possa por a salvo em caso de um ataque imprevisível dos nossos inimigos. Eis as tarefas que vos proponho: um de vós deve iniciar a construção de um aqueduto suficientemente eficaz e sofisticado que resolva os problemas de abastecimento de água à cidade. O outro deve empenhar-se na construção de uma torre tão sólida e funcional que este reino nada venha a recear em caso de ataque e cerco pelos nossos inimigos. Começai os trabalhos amanhã ao alvorecer. O primeiro que acabe a tarefa que lhe destino terá a honra de casar com a minha filha. Agora ide e que ganhe o melhor!».

Posta a situação nestes termos, deram os jovens por bem empregue o tempo e a coragem de que dispuseram para se dirigir ao palácio real a pedir ao rei a mão da filha e, no dia seguinte, puseram mãos à obra. Passaram-se meses. As obras de um e outro empreendimento avançavam com rapidez e em breve se concluiriam.

No dia em que terminaram era grande a excitação, quer da corte, quer da população da cidade. Todos se dirigiram ao centro da cidade para verificarem qual dos dois mancebos iria desposar a jovem princesa. Mas o dia, que nascera cinzento, pouco haveria de clarificar. Exactamente ao mesmo tempo em que um jovem colocava a bica na fonte principal de abastecimento da cidade que a partir daí não mais pararia de jorrar, o outro acabava de colocar a última peça de ouro no pináculo de uma espectacular e sólida torre capaz de defender a cidade dos maiores ataques inimigos.

Continuava por apurar o noivo da bela princesa. O rei estava estupefacto e a sua face ficou pálida de amargura. Não poderia cumprir o prometido. A população decidiu que os dois jovens deviam bater-se num duelo de espadas e o que ficasse sem se ferir casaria com a jovem. Assim fizeram, mas as espadas quebraram-se ficando os jovens sem uma única beliscadura.

Decididamente parecia que a princesa teria de permanecer solteira e o rei sem poder cumprir o prometido. Facto grave e intolerável para o monarca. É que ninguém como ele tomava à letra a sentença: "palavra de rei não volta atrás".

Foi então que, como um trovão, se ouviram as seguintes palavras doídas que saíram da boca do rei: “- Torre feita, água à porta; filha de el-rei morta!”

A princesa logo percebeu que nunca seria rainha pois estava condenada à morte pela dureza da sentença de seu próprio pai, montou um cavalo e fugiu em direcção ao Sul. De pouco lhe valeu. Rapidamente foi capturada pelos soldados do rei que aí mesmo, cumprindo ordens, a mataram. O lugar onde teve lugar a matança da princesa ficou conhecido por isso mesmo: Mata da Rainha.

Quanto à famosa “Torre”- edifício, que deu nome às Quintas vizinhas, ela existiu mesmo: ficava num olival, propriedade de José Antunes Cardoso, onde hoje já só se vêem alguns fragmentos cerâmicos e muita pedra miúda pelo chão; mas há ainda quem se lembre de ver algumas estruturas de pé e que não diferiam muito daquelas que o Tombo da Comenda de Castelo Novo, de 1505, descrevia deste modo, inseridas numa granja da Ordem de Cristo:

«(...)Destas confrontações adentro estaa huma meya torre descuberta, feita de canto lavrado, que se chama ha Torre do Arrizado, e darredor della huma cerca pequena de parede derribada per partes e muitos pardieiros que jaa em outro tempo foy grande edificio e moradia e junto delles estam quatro figueiras (...) E alem da dicta Torre do Arrizado, no limite da Mata, em termo de Penamacor, tem mais a Ordem huma terra que parte nesta maneira: começa-se no Vale do Arrizado (...) estrada velha (...) e de hi torna direito ao poço que estaa no cimo do valle do Arrizado».

A Torre dos Namorados Dawebwc4
By Belarmino
Campanário de duas torres simétricas, cada uma com seu sino, num cuidadoso trabalho de cantaria (Mata da Rainha).


A anexa Quintas da Torre - ou Torre dos Namorados - e a freguesia da Mata da Rainha ficam no concelho do Fundão, claro!


Última edição por em Qua Out 17, 2007 3:18 am, editado 2 vez(es)
Belar
Belar
Moderador

Número de Mensagens : 20
Idade : 69
Localização : Fundão,Beira Baixa
Data de inscrição : 16/10/2007

Ir para o topo Ir para baixo

novo Re: A Torre dos Namorados

Mensagem por Admin Qua Out 17, 2007 2:49 am

Lindíssima, mas algo trágica! Curiosa a origem dos nomes Very Happy
Admin
Admin
Admin

Número de Mensagens : 945
Idade : 44
Localização : Seia - Serra da Estrela
Data de inscrição : 09/10/2007

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos